Biomecânica e Bioenergética no voleibol

Por Solange Nascimento


           A biomecânica consiste na aplicação de princípios de mecânica no estudo de organismos vivos, é o estudo do movimento humano (WINTER 1979). A biomecânica se utiliza de instrumentos da mecânica (física) que analisa as ações de forças, sobre aspectos anatômicos e funcionais dos seres vivos. Como ocorre cada movimento feito pelo ser, anatômicos, as formas de movimento, lineares, angular, de translação, retilíneo ou curvilíneo, quando falamos em mecânica lembremos que ela é composta por duas subdivisões a estática e a dinâmica. A estática consiste em sistemas que estão em movimento constante ou seja, em repouso, sem movimento, já a dinâmica consiste em sistemas que estão em movimento e onde a aceleração esta presente, partindo desse principio temos mais uma subdivisão, a cinemática e a cinética. Os estudos da biomecânica na Educação Física estão focadas a partir de parâmetros cinemáticos e dinâmicos do ser humano (AMADIO,2000), a cinemática descreve os movimentos e a dinâmica, as forças que originam o movimento, e a cinética estuda as forças associadas que provocam o movimento e as que resultam dele

           Já a bioenergética refere-se ao gasto energético, a energia necessária para a realização de um exercício ou atividade qualquer, o metabolismo celular, a energia metabólica utilizada durante o exercício ou em repouso, e essa energia utilizada para realizar um trabalho biomecânico ou uma contração muscular não é liberada exatamente na desintegração dos alimentos que consumimos, mas sim da energia que esses alimentos liberam para produzir um composto químico, o ATP que se armazena nas mitocôndrias, a partir da desintegração desse ATP, o alimento que consumimos na presença de O2 é transformado em CO2 H2O com a liberação de energia química através respiração metabólica.

           Dependendo do tipo de atividade ou treino desenvolvido, aeróbio ou anaeróbio, o corpo pode se utilizar de formas diferentes de energia como (1) sistema ATP-PC (fosfocreatina) ou sistema do fosfagênio, (2) glicólise anaeróbica e (3) sistema aeróbico citada acima que utiliza oxigênio como fonte de energia. O sistema ATP-PC (fosfocreatina) ou sistema do fosfagênio e a glicólise anaeróbica não utilizam oxigênio por isso são sistemas anaeróbicos.

Comparativo dos sistemas de formação do ATP
Características gerais dos três sistemas
Sistema Fonte química ou alimentar Necessidade de O2 Velocidade; taxa metabólica Produção relativa de ATP
Anaeróbico
Sist. ATP-PC Fosfocreatina Não Mais rápida Pouca; limitada
Sist.Glicólise Glicogênio (glicolise) Não Rápida Pouca; limitada
Aeróbico
Sist. do oxigênio Glicogênio, gorduras, proteínas Sim Lenta Muito limitada


3.1. Sistema aeróbico e anaeróbico durante o exercício e em repouso

           Em repouso uma pessoa de tamanho médio consome cerca de 0,3 L de oxigênio por minuto, isso equivale a 18 L de O2/h ou 432 L de O2/dia. Conhecendo o VO2 de uma pessoa, é possível calcular o gasto calórico diário desse indivíduo. Em repouso geralmente o corpo queima uma mistura de carboidrato e lipídios. Um valor de R igual a 0,80 é muito comum em geral na maioria das pessoas que estão em repouso alimentadas com uma dieta mista.

R = VCO2/VO2 = 16/23 = 0,70
Para calcular o VCO2 e o VO2 é necessário ter as seguintes informações:
• Volume de ar inspirado (VI);
• Volume de ar expirado (VE);
• Fração de oxigênio do ar inspirado (FI O2);
• Fração de CO2 no ar inspirado (FI CO2);
• Fração de oxigênio no ar expirado (FE O2);
• Fração de CO2 no ar expirado (FE CO2).

           O consumo de oxigênio, em litros de oxigênio consumido por minuto, pode ser calculado então pela seguinte formula:

VO2 =(VI X FI O2) – (VE X FEO2)
A PRODUÇÃO DE OXIGÊNIO

           Calculemos o gasto calórico diário de uma pessoa de peso médio em repouso, como já supracitado uma R de 0,80 em repouso é comum em pessoas alimentadas com uma dieta mista, a equivalência de 0,80 é 4,80 kcal por litro de O2 consumido (wilmore,2001), a partir desses valores podemos então calcular o gasto calórico desse indivíduo da seguinte forma:

Kcal/dia = litros de O2 consumidos por dia . kcal usados por litro de O2
= 432 L de O2/dia . 4,80 kcal/l de O2
= 2.074 kcal/dia

           Esse valor é referente a uma pessoa de peso médio (70kg) em repouso, esse valor não inclui a energia necessária para a atividade diária normal. Existe uma medida padronizada de gasto energético em repouso, ou seja sem a pratica de nenhuma atividade durante o dia, é a taxa metabólica basal (TMB). A TMB é a taxa de gasto energético de uma pessoa que acaba de acordar de uma noite de 8 horas de sono e que está a 12 horas em jejum, ou seja esse valor é a quantidade mínima de energia necessária para a manutenção fisiológica essencial do corpo.

           A TMB esta diretaente relacionada com a quantidade de massa magra de uma pessoa (sem gordura), geralmente e apresentada em quilocalorias por quilograma de massa magra por minuto – kcal . kg-¹ . min -¹ logo, quanto maior for a massa magra de uma pessoa maior será seu gasto calórico por dia, isso explica por que as mulheres tem taxa metabólica menor do que os homens de mesmo peso corpóreo, elas geralmente tem mais massa gorda do que os homens.

           De posse dessas informações e vendo que o vôlei pela sua dinâmica de movimentos rápidos, impulsos, saltos e ataques é considerado uma atividade aeróbica ou seja, que demanda de grande consumo de oxigênio e gasto energético, um atleta de grande porte com um treino diário intenso pode chegar a gastar até a 10.000 kcal/dia, segundo estudos de bioenergética.

3.2. A dieta do atleta de Voleibol

           Os atletas demandam esforços consideráveis ao organismo e suas funções normais nos dias em treinam ou competem, a alimentação, portanto deve ser diferenciada de um individuo comum no que diz respeito ao consumo de calorias e nutrientes, o corpo precisa estar em harmonia. Muito freqüente esses atletas despendem tempo e muita energia para aperfeiçoarem suas técnicas e jogadas e para atingir um condicionamento físico ideal, e muitas vezes deixam de lado a nutrição e o sono adequados e isso acarreta um mal desempenho ou um desempenho aquém do desejado, ocasionado por má nutrição.

           Aqui apenas podemos citar o que seria uma alimentação adequada ao ritmo de exercícios desses atletas, mas jamais conheceremos a fundo sobre os hábitos alimentares desses atletas, para isso seria preciso fazer o acompanhamento de um grupo de atletas de vôlei por um período mínimo de tempo e durante os dias de treinos e antes das competições.

           Veremos a mais adiante que o consumo de carboidratos é o mais importante durante as horas que antecedem os treinos e as competições, como o consumo desse nutriente deve obrigatoriamente ser maior em atletas do que em indivíduos comuns que se exercitam esporadicamente ou mesmo regularmente e indivíduos sedentários.

           Sabemos que as pessoas se alimentam de maneiras diferentes de acordo com suas culturas, costumes, religiões ou princípios e até mesmo por questão de preferência de paladar ou condição de vida. Enfim, encontraremos atletas que fazem uso de suplementação protéica, vitamínica entre outras, com a intenção de melhorar o desempenho físico, aumentar massa magra, ganho de energia ou para suprir as necessidades de algum nutriente que geralmente não consomem no dia-a-dia.

           De posse desses conhecimentos analisaremos como deveria ser a alimentação de um atleta que desempenha treino de endurance.

           Existem seis (06) categorias de nutrientes cada qual com funções específicas para o organismo, e retiramos esses nutrientes dos alimentos que ingerimos, é deles que vem a energia necessária para as atividades diárias que desempenhamos. Examinaremos a seguir a importância fisiológica de cada uma das seis categorias de nutrientes descritos abaixo na dieta do atleta: